sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

As Benevolentes, de Jonathan Littell


Não achei que o carrasco, personagem principal de As Benevolentes, Maximiliem Aue, foi tão cruel assim. Talvez a crueldade resida na forma burocrática e industrial de produzir assassinatos em massa, especialmente dos judeus, maiores vítimas da II Guerra Mundial – mas não os únicos –, esse incrível romance nos remete a algumas situações bem fortes, em que o humano transcende todos os limites e que como ele mesmo diz que não há o desumano e sim o humano e nada mais. Às vezes, o romance fica pesado, sufocante, é como se o autor conseguisse trazer à superfície toda a tensão do front de guerra. Um detalhe interessante é que a capa do livro possui várias versões com alguns cortes na própria capa que, aliás, é de um vermelho sangue, mas não ficamos chocados com esse detalhe.

Leia o Livro aqui.
Outro aspecto da obra são os conflitos que o próprio personagem sofre ao longo da vida até alistar-se no Exército Nazista. Homossexual, violento, sem uma boa relação com a mãe devido à partida do pai quando menino – e possível co-autor de um incesto com a irmã, são as idas e vindas de uma mente atormentada, sádica; mas que em momentos de extrema violência no front é capaz de acender uma faísca de humanidade em tempos negros como a escuridão que somente uma guerra dessa envergadura pode produzir.
Creio que outro ponto importante da obra são as análises dos bastidores da guerra: o confronto imperialista do eixo nazista contra o leste europeu, mais precisamente contra a então União Soviética. A discussão do carrasco nazista com um comandante soviético é estonteante: nessa conversa vemos as análises do nazismo e marxismo indo na mesma direção quando essas visões de mundo tão conflitantes e contraditórias, mas que numa conversa num porão de execução é de uma reflexão profunda sobre o momento em questão.
Uma leitura inquietante, nada simples, mas enriquecedora para aqueles que buscam algo diferente, mas bem próximo de um evento dessa proporção.

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