quarta-feira, 9 de março de 2011

O Assassinato e Outras Histórias, de Anton Tchekhov.

Algumas características de Anton Tchekhov:

·                    Algumas das mais importantes peças de teatro são dele: Ivanóv, A gaivota, Tio Vânia e O Jardim das Cerejeiras;
·                    Tchekhov escreveu 129 contos apenas no ao de 1895.

Nesse livro publicado pela Editora Abril, o qual faz parte da Coleção Clássicos da Abril, O Assassinato e Outras Histórias, Tchekhov faz um breve relato da vida do povo russo na sua mais simples situação cotidiana, em que o assassinato está sempre presente direta ou indiretamente nos contos. Mas o livro não se resume a isso: também nos mostra a presença forte de um povo religioso e principalmente marcado pela pobreza e pela miséria. O livro é composto pelos seis contos: O Professor de Letras, O Assassinato, Os Mujiques, Iônitch, Em Serviço e, para finalizar, No Fundo do Barranco.

O Professor de Letras


Nesse conto, temos a dramatização do cotidiano, o qual descreve o amor sentido por Nikítin, o Professor de Letras, a garota pequeno-burguesa, Maniússia.
 
“E, com roupas cinzentas e simples, de meias vermelhas, levando na mão o Mensageiro da Europa, passou Vária. Na certa, tinha ido à biblioteca municipal...” (TCHEKHOV, p. 24).

O conto se desenvolve com a mediocridade do dia-a-dia, culminando com uma reação contra toda essa realidade enfadonha que se impõe ao Professor de Letras. Conto leve, de fácil leitura. Um dos contos, aliás, que não conta com o Assassinato real, mas com o assassinato de vidas no sentido de banalizar a própria existência.

O Assassinato


O conto Assassinato já é bem mais aprofundado na realidade do povo russo e de como se desdobram as atividades do cotidiano. Pobreza e Religião encontram-se juntas e ambas parecem justificar-se mutuamente. A Religião é explorada em três níveis: como base da Igreja Ortodoxa, a qual é seguida pela maioria da população; a Religião ao seu modo pessoal, como nos casos de Matviei e Iakóv; e a descrença do restante da população, como nas conversas da taberna.
O próprio assassinato de Matviei pelo seu primo, a primeira vista, tem um cunho religioso, porém, o que o estimula ao assassinato é a partilha de bens que se aproxima por conta das necessidades de Matviei. Mas, como em O Príncipe, de Maquiavel, todo o homem tem o seu preço, e o preço da única testemunha do assassinato, Serguei, são 1500 rublos, para silenciar a morte do amigo Matviei.
Mas o crime não fica impune: Tchekhov descreve muito bem o julgamento de todos os envolvidos e creio que a descrição da Colônia Penal deve-se a sua experiência, como médico, em um trabalho desenvolvido na região da Sacalina.

Os Mujiques


A cidade de Jukovo era chamada de Garçoneira e Serviçália porque os jovens alfabetizados seguiam para trabalhar lá como garçons e em tabernas. Os Mujiques é um conto de extrema pobreza, em que a situação de miséria e vulnerabilidade social é exposta com todos os seus detalhes: pouca comida, inverno interminável e, claro, muita violência regada à vodca. O interessante, também, é como essa pobreza forma a relação entre os personagens do conto. Em alguns momentos, temos a menção de saudade em relação aos tempos de servidão, em que Tchekhov já nos mostra os resultados de uma industrialização desumana, em que coloca o povo mujique na mais pura penúria. Enfim, um ambiente em que tudo falta e a desconfiança e o medo são os marcos de identificação e relação de uns com os outros.

Iônitch


Esse conto é um dos mais interessantes, na minha opinião, pois nos mostra um pouco mais da vida burguesa russa em que o objetivo da vida parece resumir-se à aquisição de objetos materiais. Num ambiente em que as mulheres parecem fúteis, e os homens, superficiais, a mediocridade, novamente, parece criar raízes e transformar, aos poucos, o jovem Iônitch também num pequeno burguês. Devido à futilidade de Kotik, ele acaba sufocando seu amor pela moça e ingressa na dinâmica social da cidade de S.: trabalhar, engordar e envelhecer. E nada mais.

Em Serviço


“Mostre, então, aos velhos, a diferença entre os suicídios do passado e os do presente. No passado, um homem dito honesto se matava com um tiro na cabeça por ter malbaratado o dinheiro público; no presente, ele se mata porque a vida é maçante, sem graça... O que é melhor?” (TCHEKHOV, 154-55).


Tchekhov no conto Em Serviço mostra uma situação de trabalho também envolvendo a morte, mas agora se trata de um suicídio e não de um assassinato, apesar de existirem evidências de poder ser um assassinato também, mas isso não fica explicado. Um ponto marcante dessa história é a predileção de quase todos os personagens pela cidade de Moscou, ‘a Mãe de todas as cidades’. Lijin, o juiz, chega a equiparar a mansão de Von Taunits a isbá mal-estruturada em que estava alojado por na mesma categoria, pois ela estava localizada no interior. Lijin tem uma leve crise de consciência ao ver que não tinha o direito de exigir uma vida melhor, pois pessoas como Lochadin, ajudante de polícia, viviam à margem da sociedade sem as mínimas condições. Mas, mesmo assim, a reflexão é momentânea e todos seguem suas vidas normalmente. Não sabemos se a autópsia foi feita no defunto e se realmente foi um suicídio, deixando o leitor sem essa definição.

No Fundo do Barranco


O conto No Fundo do Barranco se desenvolve em torno da Família Pietrovitch e da sua relação com a aldeia. O patriarca da família tem poder absoluto sobre a vida de todos e tem o prestígio dos filhos e das noras. Mas conforme o conto corre, as coisas mudam. Com a chegada de Anissim, filho mais velho, a rotina da família se altera e é realizado o seu casamento, pois segundo a sua madrasta, já era hora de Anissim se casar. Casam o filho, mas nem isso é o suficiente para que Anissim fique na aldeia, pois tem de retornar para terminar os seus negócios com o seu amigo, Samorodov. A história culmina com um assassinato, o mais chocante de todos os contos, na minha opinião. Tchekhov desenvolve esse conto em que a relação da Família Pietrovitch com a comunidade da aldeia baseia-se na trapaça, em sempre levar vantagem em tudo no seu comércio de vodca, feno e outras utilidades.

Ler Assassinato e Outras Histórias foi o meu primeiro contato com a Literatura Russa e confesso que foi enriquecedor conhecer um pouco da cultura e modo de vida russa. Certa vez, Engels disse que quem quisesse saber como ocorreram as transformações sociais após o advento da Revolução Industrial, não deveria procurar informações em livros de história, mas sim ler a obra de Balzac, pois foi a pessoa quem mais perfeitamente descreveu essa situação por meio da literatura. Então, esses seis contos de Tchekhov me mostraram um pouco da realidade do povo russo antes de um dos eventos mais marcantes da história da humanidade: a Revolução Russa. Desse modo, o autor já menciona também na sua ‘aldeia’ as transformações decorrentes da industrialização desordenada a qual condena milhares de pessoas a péssimas condições de vida e miserabilidade.

3 comentários:

  1. Comecei a ler e já li O Professor de Letras e O Assassinato. Adorei o modo como o autor escreve, aliás, gosto muito da literatura russa.

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  2. affs livro chato a professora mandou agente ler não sai da primeira pagina

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  3. Mas as histórias são muito boas, animeecia.com. Aconteceu isso comigo quando fui ler Drácula, de Bram Stocker... Abraços

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