sábado, 7 de abril de 2012

Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi.

Crédito da imagem: Walmart

Os Bestializados, de José Murilo de Carvalho, trata de um período da História recente do Brasil: a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Na época, as elites estrangeiras sediadas aqui no país ficaram um tanto perplexas com a passividade do povo brasileiro diante de um evento de tanta importância para o país. Possivelmente, os estrangeiros esperavam uma participação popular mais contundente como, por exemplo, à francesa ou à inglesa (Revolução Inglesa e Francesa, respectivamente), criticando, de certa forma, essa negligência política por parte da população tupiniquim.

Entretanto, não é o que nos mostra a análise de José Murilo de Carvalho. Segundo o autor, no Brasil existia povo, sim, mas não com o caráter e a cultura liberal de países como França e Inglaterra, nas suas respectivas revoluções burguesas. Havia o capoeira, o malandro, o bilontra, a mãe-de-santo; esse era o povo que existia e foi sujeito ativo numa das revoltas com maior cunho de participação popular, talvez, da História do Brasil: A Revolta da Vacina. Personagens emblemáticos como “Prata Preta”, terror da polícia fluminense. Segundo relatos da época, “Prata Preta” lutava com duas armas de fogo, um punhal e com mais uma navalha: era irredutível nas batalhas de rua do Rio de Janeiro.

Ainda assim, convém comentar a medida de ação e de inserção do povo brasileiro nas manifestações. A Revolta da Vacina, segundo o autor, foi um movimento impulsionado pela publicidade, mas tomou força com as barricadas feitas pelos cariocas. E mais: o que representava a República para esta população? A República era uma composição na qual o povo carioca não se via identificado e representado, uma vez que a população demonstrou em muitas oportunidades apreço e saudosismo à figura do Imperador.

Ler os Bestializados, de José Murilo de Carvalho, esclarece alguns aspectos da falta de interesse do povo brasileiro pela política. Ler esse livro é entender as manifestações populares sob a ótica da cultura e da comunidade, sob o prisma das relações do cotidiano em cortiços e favelas, onde a vida é mais difícil, mas não menos vivida. Nesse caso, a República foi mais uma imposição de um novo arranjo elitista brasileiro a uma construção do exercício pleno da cidadania dos brasileiros em busca dos seus direitos.



Por Camila Geraldo Bairros

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