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Crédito da imagem: Walmart |
Os Bestializados, de José Murilo de Carvalho, trata de um
período da História recente do Brasil: a Proclamação da República em 15 de
novembro de 1889. Na época, as elites estrangeiras sediadas aqui no país
ficaram um tanto perplexas com a passividade do povo brasileiro diante de um
evento de tanta importância para o país. Possivelmente, os estrangeiros esperavam
uma participação popular mais contundente como, por exemplo, à francesa ou à
inglesa (Revolução Inglesa e Francesa, respectivamente), criticando, de certa
forma, essa negligência política por parte da população tupiniquim.
Entretanto, não é o que nos mostra a análise de José Murilo
de Carvalho. Segundo o autor, no Brasil existia povo, sim, mas não com o
caráter e a cultura liberal de países como França e Inglaterra, nas suas
respectivas revoluções burguesas. Havia o capoeira, o malandro, o bilontra, a
mãe-de-santo; esse era o povo que existia e foi sujeito ativo numa das revoltas
com maior cunho de participação popular, talvez, da História do Brasil: A
Revolta da Vacina. Personagens emblemáticos como “Prata Preta”, terror da
polícia fluminense. Segundo relatos da época, “Prata Preta” lutava com duas
armas de fogo, um punhal e com mais uma navalha: era irredutível nas batalhas
de rua do Rio de Janeiro.
Ainda assim, convém comentar a medida de ação e de inserção do
povo brasileiro nas manifestações. A Revolta da Vacina, segundo o autor, foi um
movimento impulsionado pela publicidade, mas tomou força com as barricadas
feitas pelos cariocas. E mais: o que representava a República para esta
população? A República era uma composição na qual o povo carioca não se via
identificado e representado, uma vez que a população demonstrou em muitas
oportunidades apreço e saudosismo à figura do Imperador.
Ler os Bestializados, de José Murilo de Carvalho, esclarece
alguns aspectos da falta de interesse do povo brasileiro pela política. Ler
esse livro é entender as manifestações populares sob a ótica da cultura e da
comunidade, sob o prisma das relações do cotidiano em cortiços e favelas, onde
a vida é mais difícil, mas não menos vivida. Nesse caso, a República foi mais
uma imposição de um novo arranjo elitista brasileiro a uma construção do
exercício pleno da cidadania dos brasileiros em busca dos seus direitos.
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