sábado, 14 de maio de 2011

Biblioteca Pública em ruínas: preservaram vidas. Mas a história…

Vanessa Correia

Crédito da imagem: Consulado Brasil
Desde que o prédio do antigo Colégio General Osório foi interditado, em março, a Biblioteca Municipal e o Arquivo Público de Ilhéus permanecem desabrigados. Matéria do site Jornal Bahia Online mostra a situação preocupante de um rico acervo, com mais de 35 mil títulos e 80 obras raras catalogadas, destacando que a Prefeitura ainda não conseguiu encontrar um imóvel para receber os documentos.
A secretária municipal da Educação, Lidney Campos, afirma que não se achou um imóvel adequado. Mas o jornal apurou que, na verdade, muitos proprietários recusam alugar à Prefeitura. Confira a situação do prédio.
A solução encontrada pela Prefeitura de Ilhéus para o perigo iminente de desabamento do prédio da Biblioteca Pública Adonias Filho preservou a vida dos funcionários que trabalhavam no local mas está praticamente decretando a “morte” da memória e dos registros históricos de Ilhéus. Os funcionários que trabalhavam no local foram retirados do prédio em fevereiro, após um laudo emitido pelo engenheiro Hermano Fahning, diretor de operações da secretaria municipal de Planejamento, determinando a imediata suspensão das atividades no prédio, que apresenta sérios problemas em sua estrutura e poder vir a desabar. Mas os livros da biblioteca e os documentos oficiais do Arquivo Público Municipal, que também funciona no prédio histórico, permanecem no local cheio de infiltração e sem, sequer, um segurança. Muitos livros, já molhados pela ação das chuvas dos últimos dias, estão irrecuperáveis.
Somente a Biblioteca Pública possui cadastrados pelo menos 35 mil títulos, incluindo neste acervo uma quantidade significativa de obras raras da literatura brasileira. Só em Braile, o acervo é composto de pelo menos 6 mil exemplares. Recentemente, membros da Fundação Biblioteca Nacional e da Diretoria de Bibliotecas Públicas do Estado da Bahia identificaram 80 obras raras existentes na biblioteca, acervo encontrado em poucos espaços culturais do País. Cerca de 600 estudantes passam mensalmente pelo espaço, que atende, além de estudantes secundaristas, muitos universitários que estudam no eixo Ilhéus-Itabuna.
Procurada pelo Jornal Bahia Online, a secretária municipal de Educação, Lindiney Campos, afirmou que a maior dificuldade encontrada, no momento, é alugar um espaço que possa receber o acervo. “Não é uma coisa fácil”, afirmou, por telefone, ao repórter do JBO. De acordo com a professora Lindiney, os espaços até agora encontrados não foram aprovados pela equipe de Patrimônio da Prefeitura. “São espaços que não estão adequados a projetos de acessibilidade e, alguns, ficam muito próximos a áreas de encostas”, explicou. Mas outras fontes palacianas asseguram que algumas casas com o perfil procurado foram encontradas. Os locadores é que não aceitam firmar contrato com a Prefeitura.
Segundo a historiadora Maria Luísa Heine, o prédio agora interditado foi inaugurado em 31 de dezembro de 1915, tendo se constituído na primeira escola pública municipal. Mais tarde passou a se chamar Grupo Escolar General Osório. Foi construído pelo Intendente Antonio Pessoa da Costa e Silva em um terreno doado pelo coronel Misael Tavares, numa época de crise mundial, pois àquela época estava em andamento a Primeira Grande Guerra. O presidente do Brasil era Wenceslau Brás e o governador da Bahia, J.J. Seabra.
A construção lembra as da Belle Époque francesa, pois no Brasil ainda se dava valor a este estilo. Esta expressão, Belle Époque, está diretamente ligada ao período iniciado em 1871, um período romântico, onde acreditava-se que não haveria mais guerra, as mulheres passaram a ter maior participação social e o mundo melhoraria porque a ciência estava se desenvolvendo para resolver todos os problemas do homem, segundo a filosofia positivista.
Durante muitos anos funcionou a escola, tendo o prédio sido utilizado pelo exército durante a Segunda Guerra Mundial. O prédio está dividido em duas partes, onde a freqüência era dividida em “sexo feminino” e “sexo masculino”.
A área mais afetada é o piso inferior da biblioteca Adonias Filho. De acordo com Hermano Fahning, a estrutura ainda não cedeu porque trata-se de uma obra feita em 1915, quando a engenharia exagerava na segurança de projetos estruturais. Nas paredes do histórico imóvel existem, inclusive, trilhos de ferro, que estão ajudando a segurar a estrutura comprometida. Como se trata de um prédio histórico, o engenheiro sugere que a restauração seja feita com o uso de um reforço estrutural.

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