segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Estudo desenvolvido na Unicamp analisa ciência na obra de Machado de Assis e Jorge Luis Borges

"A literatura produzida por Machado de Assis e seus contemporâneos não tinha apenas como finalidade o entretenimento. Mesmo quando buscava divertir, fazia isso de modo a construir críticas sociais amplas. Particularmente em uma de suas obras, Papéis avulsos – coletânea cujos contos foram elaborados a partir dos principais debates científi cos e filosóficos da segunda metade do século 19 –, houve esforço no sentido de desmascarar o uso perverso do discurso produzido pela ciência: a linguagem científica servia para justifi car medidas políticas arbitrárias adotadas com propósitos de exclusão social e política, e invalidar qualquer outra opinião que não coubesse no padrão de pensamento então dominante na Corte imperial.

Demonstrar a preocupação do contista em tornar a sua produção literária um meio de refl exão sobre algumas das mais inquietantes questões de seu tempo, como o amplo papel atribuído à ciência, é um dos principais méritos de pesquisa de mestrado e doutorado conduzida na Unicamp pela historiadora Daniela Magalhães da Silveira, transformada no livro Fábrica de contos: ciência e literatura em Machado de Assis (304 páginas, Editora da Unicamp).

Desenvolvido entre 2005 e 2009, o projeto inicial de Daniela tinha como proposta buscar compreender a organização das coletâneas de contos por Machado de Assis. Boa parte desses textos teve uma primeira versão publicada em algum jornal ou revista fl uminense. Em seguida, o escritor selecionava alguns deles e os publicava sob o formato de livro. Talvez numa tentativa de oferecer alguma coesão ou mesmo de apresentar a nova obra para o seu público, aquelas narrativas apareciam precedidas por uma “Advertência”, revela a pesquisadora. Esse é o caso, por exemplo, da coletânea Papéis avulsos, de 1882, em que Machado afirmava que aqueles contos seriam “pessoas de uma só família, que a obrigação do pai fez sentar à mesma mesa”.

“Tendo isso em mente, a minha intenção era a de buscar evidências em torno da publicação inicial dos contos nos periódicos, observar as mudanças e ajustes feitos por Machado e, em seguida, tentar saber se havia alguma temática que serviria de junção e justificativa para que aquelas histórias tivessem sido recolhidas e ganhado o formato de livro. Afinal de contas, isso significava não cair no esquecimento e nem serem relegadas a um segundo plano”, pondera Daniela, que é formada em história pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente leciona no Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

A primeira leitura feita dos contos publicados em Papéis avulsos e nas Histórias sem data (1884), no formato original, ou seja, ainda na imprensa, despertou-a para as questões relacionadas à ciência. Estas estavam presentes em todo o jornal e revista, e não somente nos textos machadianos.

“Comecei a perceber, então, como aquela era uma temática que havia rendido muita discussão e parecia ter chamado a atenção de Machado, incentivando-o a ingressar no debate”, acentua.

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